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Mértola Vila Museu

A experiência científica, museográfica  e pedagógica do projecto Mértola - Vila Museu, não pode ser dissociada de um programa estruturante de cariz marcadamente político: num interior empobrecido e em despovoamento, a memória do local, na sua potencialidade dignificante,  pode tornar-se um poderoso factor de desenvolvimento.

 

Um projecto cultural de desenvolvimento integrado

Cláudio Torres

Quando em finais dos anos setenta do século passado foi iniciado o projecto que hoje chamamos Mértola Vila Museu, os seus objectivos não eram muito diferentes daquilo que agora, felizmente, é já um lugar-comum: envolvimento da população,numa tentativa de lhe devolver a sua identidade e contribuir para o desenvolvimento local. Depois de algumas dificuldades iniciais o ponto de viragem aconteceu com o reconhecimento externo: quando os mertolenses verificaram que o trabalho lento e minucioso dos arqueólogos e museólogos era reconhecido no exterior. Entre outras notoriedades a Secretaria de Estado do Ambiente e a Secretaria de Estado da Cultura atribuíram em 1989 ao Campo Arqueológico de Mértola o Prémio Nacional de Conservação da Natureza e do Património Histórico-Cultural; em 1990 é o Ministério do Planeamento e Administração do Território a conceder o Prémio Nacional para o melhor Plano de Salvaguarda para um núcleo histórico; em 1998 o Ministro da Cultura atribui ao Campo Arqueológico de Mértola a Medalha de Mérito Cultural.

A grande opção de fundo deste Projecto Integrado foi a aposta sobretudo na musealização em vez de investir apenas nas publicações de carácter científico. Por um lado, a qualidade científica do trabalho arqueológico e a sua divulgação nos canais apropriados é, não só natural em toda a actividade que se pretenda credível e digna dessa condição como, por maioria de razão, se torna vital para qualquer projecto sediado fora dos circuitos universitários ou institucionais. Por outro lado, a musealização ou divulgação local, em linguagem acessível e pedagógica, é a única forma convincente de justificar localmente os trabalhos em curso, capaz de identificar as mais fortes referências culturais e, por conseguinte, dinamizar potenciais endógenos. Na dinâmica  museográfica não só se difundem os resultados de uma forma mais eficiente pelo público em geral, sobretudo o local, como se torna possível atrair visitantes, desde que esta oferta seja devidamente divulgada. Assim se constituiu Mértola como um destino de turismo cultural de importância nacional e, até, internacional.

De facto, o número de visitantes dos museus foi aumentando até que, ultimamente, foram ultrapassados os 25 000 por ano. Destes, cerca de 20% são visitas de estudo de escolas. Há ainda um número residual de grandes grupos de outro tipo (excursões em autocarro de idosos, grupos culturais e recreativos, etc.). Além destes visitantes que utilizaram directamente o posto de informação, devemos referir uma percentagem significativa - avaliada em dez mil ao ano - que entra na Vila Velha, sobe ao castelo e á igreja matriz sem registar a sua presença.

Estes visitantes procuram mais do que majestosos monumentos, um projecto dinâmico e ambicioso que, numa zona isolada e longe dos grandes centros, conseguiu envolver a população local, construindo propostas científicas e museológicas de grande qualidade.

Todo este esforço de investigação, investimento e divulgação tem sido maioritariamente conduzido pelo Campo Arqueológico de Mértola de colaboração com a Associação de Defesa do Património e com o apoio da Câmara Municipal.

Mais recentemente juntaram-se a este projecto a delegação local da Escola Profissional Bento de Jesus Caraça, que se "especializou" na formação nas áreas do turismo e do património, e o Parque Natural do Vale do Guadiana, naturalmente vocacionado para a gestão ambiental de um vasto território com cerca de 70 000 hectares.

O tecido urbano do centro histórico de Mértola, apresenta-se como um conjunto de alto valor histórico, patrimonial, plástico e mesmo vivencial. Assim, tem sido parte fundamental do trabalho da equipa do CAM incentivar, apoiar e desenvolver actividades e projectos de valorização patrimonial a ele associados.

Um trabalho mais aturado nesta área conduziu a projectos de intervenção arquitectónica, assumindo particular relevância o cruzamento das informações provenientes dos trabalhos de investigação arqueológica e documental, nomeadamente no caso da recuperação de alguns troços das muralhas da vila, da Basílica Paleocristã, do edifício da Cadeia, hoje Biblioteca Municipal, das ruínas seiscentistas dos antigos celeiros da Casa de Bragança (onde se encontra instalada a colecção de Arte Islâmica do museu) e de algumas casas de habitação. Procura-se, assim, que determinados espaços (edificados ou de outra natureza) possam ser componentes integráveis no conjunto museológico, dando-se também resposta às necessidades sociais e de usufruto quotidiano que o local contém em si.

Neste contexto, o Projecto de Museologia Local de Mértola insere-se numa filosofia de intervenção que visa, antes de tudo, projectar a recuperação social e patrimonial do centro histórico, conhecido por Vila Velha.

É que, embora os vectores mais importantes de expansão da vila estejam hoje extramuros, o núcleo primitivo permaneceu, a imagem de marca dos registos do passado e, de certa forma, o símbolo e motor do seu próprio desenvolvimento.

Este quadro ajuda a perceber como o museu é a própria vila. De facto, historicamente tão importantes como os achados arqueológicos que enchem os expositores, são as ruas, a organização dos espaços públicos, a estruturação e usufruto das fachadas, volumes arquitectónicos, materiais e as técnicas de construção, assim como uma sustentada requalificação habitacional.

A museologia, aqui, não podia alhear-se da reabilitação urbana. Assim, facilmente se apercebe o princípio que tem presidido ao projecto da Vila Museu: o da polinuclearização, isto é, o de organizar/instalar em pontos distintos do centro histórico espaços museográficos organizados de forma temática e sempre que possível no próprio local do achado arqueológico ou relacionado directa ou indirectamente com o objectivo pedagógico pretendido.

Desta forma, proporciona-se a leitura e o conhecimento de conteúdos históricos específicos, evitando-se a concentração expositiva e sobrecarga informativa, ao mesmo tempo que se faculta o acesso a um percurso histórico de visita que se interpenetra com os espaços e traçado urbano da vila, ela mesma entendida como espaço de fruição estética. Um dos objectivos deste percurso museográfico, e que tem sido coroado de êxito, é incentivar a variação dos circuitos, levando o turista a aumentar o tempo-visita, com benefício evidente para os serviços de restauração e alojamento.

Aqui chegados, encontramo-nos agora num ponto de viragem: os recursos, incluindo os turísticos, têm de ser planeados e geridos, sob pena de não serem devidamente acautelados. É necessário definir objectivos e estratégias. E estes parecem apontar para uma melhor gestão das visitas acompanhadas organizando mais circuitos temáticos para crianças, adolescentes e idosos, diversificando a oferta, nomeadamente para a vertente do turismo etno e antropológico e de natureza.

Para além destes aspectos estamos agora empenhados em melhorar a qualidade do serviço prestado dando formação aos que mais directamente trabalham com o visitante, envolver a população de uma forma mais participada na actividade turística e, sobretudo, que o planeamento, para além de permitir uma melhor operacionalidade, reduza ao mínimo os impactos negativos. Estamos conscientes que a qualidade do factor turístico está directamente relacionada com a qualidade do serviço, com a informação disponibilizada e, também, com a qualidade da animação existente.

Todos estes aspectos, devidamente estruturados e interligados, podem ser um obstáculo ao crescimento desregrado e incontrolado que, mais tarde ou mais cedo, pode levar à agonia e morte por massificação dos destinos turísticos mais procurados.

O Museu de Mértola

Núcleos concluídos ou em fase de acabamentos (circuito de visita)

1 - Centro de acolhimento e informação

Este espaço, logo à entrada da Vila Velha funciona como centralizador das actividades de divulgação e atendimento turístico que estão sob a responsabilidade do CAM e da Câmara Municipal. Por um lado, aqui ficam instalados equipamentos informáticos onde pode ser consultada a base de dados turísticos e logísticos.

Dotada com um sistema de projecção em ecrã, a sala pode ser usada como espaço para uma conversa introdutória com os visitantes, explicando algumas das componentes do projecto.

A sala funciona também como local de visionamento de pequenos filmes produzidos pelo CAM, pela ADPM ou outros relacionados com aspectos da cultura e do património de Mértola. Este local será ainda o local de venda de bilhetes, de publicações e guias de visita.

Esta centralização permitirá uma eficaz gestão e controlo de todo o serviço de apoio turístico em torno dos núcleos e sítios arqueológicos.

Neste local estará sempre de serviço um funcionário de atendimento, que organiza e faz a distribuição dos fluxos de visitantes, bem como vendas e alugueres; também aqui será o local de congregação dos visitantes com guia, caso seja este o tipo de visita (previamente) solicitada.

Todo o tipo de informações que se prendem com outros aspectos logísticos ou outros serviços, podem também ser facultados neste espaço.

A concentração do fluxo de visitantes neste local, como ponto de partida para qualquer percurso de visita, permite manter um registo de visitantes, assim como a sua profissão, origem social e nacionalidade, dados esses preciosos para gerir com maior agilidade todo o processo.

2 - Castelo

Ocupando o local de antigas construções romanas e de um pequeno bairro fortificado de época islâmica, o castelo domina todo o povoado e serve de referência ao fragor de antigas batalhas, à memória de outros feitos. A torre de menagem, ainda imponente no seu formidável volume, assinala a época em que Mértola foi durante um século, a sede nacional da Ordem de Santiago. Na sala de armas abobadada estão reunidos alguns elementos arquitectónicos recolhidos na vila e nos arredores e atribuíveis a um período de transição entre o séculos VI e IX.

É uma época dominada pelas formas decorativas ao gosto visigótico. Esta mostra, além de um catálogo temático, ostenta um painel didáctico referindo a implantação topográfica dos objectos expostos. Na sala superior, recentemente recuperada está prevista a montagem de um outro programa expositivo dedicado à história da própria fortaleza. No recinto do castelo, cujas muralhas foram recentemente consolidadas o acesso está actualmente condicionado por obras de reabilitação e musealização ainda não concluídas.

3 - Acrópole romana e bairro islâmico

A arqueologia abriu as primeiras portas do passado. Ano após ano são descobertas outras formas e objectos que valorizam os museus e respondem a muitas dúvidas de uma história por vezes ainda mal contada. Interrompendo a vertente norte da encosta do Castelo, o possível forum da cidade romana cria uma plataforma artificial, suporte do mais imponente conjunto monumental da velha Myrtilis.

Toda esta antiga praça pública assentava numa galeria subterrânea - o criptopórtico - com cerca de 30 metros de comprimento e 6 de altura que serviu de armazenamento alimentar e mais tarde de cisterna. Em época islâmica, no decurso dos séculos XI e XII, toda esta zona é ocupada por um bairro habitacional que, depois da conquista cristã de 1238, é completamente arrasado e transformado em cemitério. Este recinto, agora de acesso reservado, pode vir a ser visitado futuramente percorrendo um passadiço metálico que levará o visitante aos locais de maior interesse.

Entre estes conta-se um importante baptistério do século VI, na altura rodeado por um belo conjunto de mosaicos policromos de que restam alguns fragmentos significativos.

4 - A igreja-mesquita

Inserida directamente no recinto da acrópole e integrando-se no seu circuito monumental, ergue-se a Igreja matriz (antiga mesquita) - No local onde teria existido um templo romano e depois paleocristão e onde, em finais do século XII, foi construída de raiz uma mesquita, situa-se hoje a igreja matriz de Mértola. Da antiga mesquita almóada restam dois capiteis, reutilizados nas obras quinhentistas, quatro portas de arco ultrapassado e o mihrab. Neste pequeno nicho, é ainda claramente perceptível a linguagem decorativa dessa época. Logo após a conquista, a mesquita é cristianizada e a Ordem de Santiago impõe na fachada o seu símbolo. Em meados do século XVI a igreja é completamente reconstruída. As suas 5 naves, inicialmente cobertas por madeiramento policromo, são substituídas por um belo conjunto de abóbadas com destaque para o tramo polinervado do altar mor. Ao contrário da abobadagem e dos pináculos exteriores que se submetem ao gosto mudéjar do último gótico, a porta principal da igreja segue os modelos do Renascimento italiano. No adro do templo, um painel didáctico, além de prestar algumas informações históricas, indica os horários de abertura do monumento.

A caminho do conjunto monumental localizado na ponta sul da Vila Velha, a descida deve ser feita pela rua da Afreita onde se localizava uma antiga oficina de ferreiro.

5 - Forja do Ferreiro

Esta oficina já desactivada, pretende guardar uma das muitas profissões do nosso passado que não conseguiu resistir às novas tecnologias.

Além da bigorna e da forja com o seu fole, são expostas todas as ferramentas necessárias à moldagem do ferro. Um painel explicativo descreve o local e as principais operações desenvolvidas pelo artesão.

6 - Colecção de arte islâmica

Aproveitando os espaços e volumes dos antigos celeiros da Casa de Bragança, um moderno projecto arquitectónico e museográfico abriga, ao longo dos seus dois pisos, a mais importante colecção de arte islâmica do nosso País. Destaca-se o espólio cerâmico e nomeadamente um excepcional conjunto de artefactos decorados com vidrado em "corda seca". Esta técnica decorativa oriental, apurada nas olarias do Al Andalus, será mais tarde difundida pela azulejaria quinhentista. Os motivos decorativos animais e vegetais passam a geométricos ou epigráficos, atingindo um forte barroquismo ornamental.

A arte dos metais especializa-se na fundição de bronzes e aperfeiçoa a sua tecnologia no fabrico de armas. O sistema monetário é sobretudo em prata, embora por razões de prestígio, alguns pequenos reis locais cunhem moedas de ouro. A ourivesaria em ouro, prata ou bronze, nas suas técnicas de repuxado, encastoado, fundido e cinzelado parece ser oriunda de oficinas locais que aproveitavam os metais extraídos nas cercanias. Todas estas técnicas e formas decorativas estão representadas nos expositores do museu.

8 - Centro de Estudo islâmicos e do Mediterrâneo

Fronteiro ao Núcleo Islâmico, num belo edifício, parcialmente recuperado, encontram-se instalados vários organismos dependentes do Campo Arqueológico de Mértola. Um Centro de Formação Superior, uma biblioteca especializada na Civilização Islâmica, a sede da associação Multiculti; a sede da Rede portuguesa da Fundação Anna Lindh para o Diálogo de Culturas e um Centro de Exposições temporárias.

9 - Arte sacra

Porta da Ribeira, Construída no século XVI sobre a porta de acesso ao porto antigo e medieval, a igreja da Misericórdia hoje parcialmente desafecta ao culto, guarda um interessante acervo de arte sacra cristã. O corpo da igreja, a sacristia e outros anexos, servem hoje de espaço expositivo. A colecção de estatuária, pintura e alfaias religiosas, foi durante os últimos vinte anos, recolhida em algumas igrejas do concelho, dada a pouca segurança e o abandono a que tinham sido votadas. Entre um conjunto de três dezenas de peças esculpidas em madeira policroma, algumas pertencem a grandes escolas europeias do século XVI e a grande maioria foi trabalhada em oficinas regionais.

A primeira parte da exposição permite uma visita virtual a todas as igrejas paroquiais, assim como uma visão fílmica da procissão anual do

Senhor dos Passos. Estão expostas também algumas peças da antiga Misericórdia e três tábuas monumentais que pertenceram a antigos altares quinhentistas da igreja matriz. Entre as alfaias litúrgicas expostas destacam-se três importantes peças em prata cinzelada do século XVI: uma arqueta-ostiário, uma cruz processional e uma custódia. Do século XVIII, sobressai um conjunto de cálices e outras pequenas alfaias litúrgicas.

10 - Percurso da Beira Rio

Saindo pela Porta da Ribeira em direcção ao rio e partindo das antigas muralhas romanas (indicadas por sinalização local), alinham-se ainda imponentes os pegões de um pontão que dava acesso em época tardoromana à Torre do Rio. Além de permitir o acesso à água sem sair das muralhas, esta construção era um importante ponto de apoio na defesa do porto, não só por poder abrigar uma guarnição militar, como também por controlar uma corrente de ferro que, de uma margem à outra impedia as embarcações inimigas de subir o rio. Poderosos talha-mares resistiam à violência das águas invernais. Pela sua técnica construtiva e funções, é um monumento único no nosso país.

A zona envolvente destas imponentes ruínas foi consolidada e ajardinada. Um caminho calcetado leva o visitante a visitar um sistema de túneis e poços que em épocas antigas introduzia as águas do rio no interior das muralhas. Subindo a escadaria da Torre do relógio chega-se ao largo da Câmara.

11 - Casa romana

Sob o edifício dos Paços do Concelho encontra-se instalado o núcleo romano do Museu. Antecedendo obras no subsolo, uma intervenção arqueológica pôs a descoberto as ruínas de uma habitação romana. A musealização deste sítio, permitiu instalar um conjunto de fragmentos arquitectónicos sugerindo formas e funções da época em que a casa foi habitada. São expostos objectos encontrados no próprio local, alguns outros associados ao mesmo contexto cultural e finalmente a reprodução de vidros e esculturas dessa época que, desde os finais
do século XIX, foram depositadas no Museu Nacional de Arqueologia. Este pequeno museu de sítio embora integrado no edifício dos Paços do Concelho, segue os horários dos outros núcleos museológicos.

12 - Oficina de ourivesaria

Reatando com antigas tradições e aproveitando velhos motivos artísticos, a oficina de ourivesaria produz réplicas de alguns materiais arqueológicos provenientes das escavações.

As memórias arqueológicas são também o ponto de partida para a criação de peças onde a imaginação criativa abre novos horizontes para a estética contemporânea. As mesmas técnicas e gestos artesanais modelam a prata e o ouro numa profusão de formas e motivos inscritos a tradição islâmica e mediterrânea.

13 - Oficina de tecelagem

Uma das mais antigas artes tradicionais da região é certamente a tecelagem de mantas de lã. Nesta oficina, onde é ministrada formação contínua, uma cooperativa de tecedeiras encarrega-se de fazer sobreviver esta tradição. Os motivos decorativos destas mantas assemelham-se a uma gramática ornamental filiada em antigas tradições berberes e que também encontramos impressas em materiais arqueológicos. No espaço a própria oficina está organizada uma mostra de antigos instrumentos ligados à actividade da lã e do linho, assim como uma exposição de tecidos fabricados na oficina e nos povoados serranos do concelho.

14 - Basílica paleocristã

Sob o invólucro despojado de um moderno edifício, ocultam-se as ruínas de uma grande basílica paleocristã aberta ao culto do século V ao século VIII. De três naves e ábsides contrapostas, o que resta deste templo funerário é hoje valorizado por uma museografia que apenas sugere as principais linhas arquitectónicas.

Das dezenas de sepulturas estudadas apenas uma proporcionou uma fivela em bronze com decoração cinzelada e um lacrimário de vidro. A importância excepcional deste museu é a colecção lapidar paleocristã constituída por seis dezenas de lápides epigrafadas, trinta das quais se encontram expostas no local.

Antónia, Festelus ou Amanda, foram habitantes da cidade de Myrtilis e contemporâneos de Andreas regente do coro da igreja. Esta basílica funerária foi construída sobre uma necrópole romana, onde já tinha havido enterramentos da Idade do Ferro (6 séculos antes de Cristo) e, numa época posterior, também aproveitada como assentamento de um cemitério muçulmano.

15 - Ermida e necrópole de S. Sebastião

No pátio da Escola secundária foi escavada e museografada a parte mais significativa de uma grande necrópole romana e tardoromana sobre a qual se implantou no século XVI uma pequena capela dedicada a S. Sebastião. O cemitério, escavado na rocha, é visitável através de um passadiço metálico e ostenta um painel indicativo. A ermida, completamente reconstruída, numa operação pedagógica, com a ajuda dos alunos de arqueologia da Escola Bento de Jesus Caraça, abriga um pequeno museu de sítio onde, entre outros artefactos, pode ser admirada uma medalha-crismon em ouro encontrada na sepultura de uma criança

16 - Percurso complementar: Azenhas do Guadiana

Nas imediações deste complexo escolar o rio Guadiana é cortado por um açude onde estão implantados cinco moinhos de água. Dois deles em sólida abobadagam estavam adaptados ao regime das marés.

Podemos concluir que toda a sociedade, qualquer comunidade procura guardar, proteger os seus bens mais preciosos, as provas e documentos identitários, os objectos e artefactos portadores de uma marca ou sinal da memória colectiva. Este local pode e deve ser o museu. Um espaço sacralizado capaz de concentrar e sintetizar a alma de um sítio ou território, capaz de dignificar o carácter mais profundo de uma comunidade. O gesto que transforma o insignificante pedaço de barro ou a pequena fivela em objecto de cultura, em peça sacralizada, é um gesto demiúrgico, um acto de afirmação colectiva que reforça a auto-estima e o orgulho local. Mais significativo se torna o museu local quando este se fracciona em vários núcleos temáticos e quando estes, gradativamente, vão incluindo áreas de protecção, vias de acesso, portas e poiais, muros hortas e pomares. E sobretudo quando lá dentro se encontra toda uma população interessada, conivente e solidária. Este é, a pouco e pouco, o Museu de Mértola.